Nota acerca do caso Marielle Franco




Por Frederico Lambertucci – graduado em Ciências Sociais pela UFGD



A comoção pela morte (execução) da companheira Marielle tomou conta das redes sociais e de nossos corações neste espaço de tempo tão pequeno e que parece tão grande. 

O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Pedro Gomes na noite de quarta-feira no centro do Rio de Janeiro trouxe novamente à tona o temor da ação de milícias armadas na cidade. Defensora dos direitos humanos e crítica ferrenha da atuação de policiais que agem fora da lei, Marielle voltava de um evento na Lapa quando foi alvo dos disparos. No segundo dia de investigações, a perícia concluiu que o lote de munições utilizados no crime teria sido vendido para a Polícia Federal em Brasília. A TV Globo informou que trata-se do mesmo lote utilizado na chacina de Osasco, que matou 19 pessoas em 2015, segundo o jornal El País.

Primeiro, não, Marielle não morreu porque era mulher e negra, é evidente que esses fatos pesaram, que o vínculo dela com a comunidade deriva por muitas mediações, em um longo processo histórico que leva da abolição da escravatura em 1888, juntamente a formação dos Cortiços que se inicia em 1808 quando da chegada de Dom João ao Brasil, onde os moradores da cidade foram expulsos para a família real e sua côrte ocupar os locais. Posteriormente com a lei do ventre livre e em seguida com a abolição os cortiços foram crescendo e invadindo os morros do Rio de Janeiro. 

Deriva deste processo de fundação do capitalismo brasileiro, com as peculiaridades da formação social do Brasil o fato de Marielle (com todas as mediações da própria história singular dessa) ter sido “filha” da Maré, e ter esse vínculo com as comunidades. 

Segundo, o PSOL do Rio tem sofrido ameaças constantes, já que o local com a maior milícia do país é justamente no Rio. Neste caso, com a intervenção o risco e a ameaça só crescem. Visto que o exército passa ser uma força envolvida no processo. Nós sabemos bem que a polícia do RJ já se tornou um grupo de extermínio legalizado. Este segue o processo de militarização da vida social - que acompanha o período histórico de decadência civilizacional sob a égide da crise estrutural do capital, - e que tem se tornado a forma normal no Brasil, México, El Salvador, Bolívia e etc. de estruturação da forma normal de acumulação capitalista com o complexo militar industrial e a destruição de um excedente populacional frente as necessidades de reprodução do capital.

Terceiro, não estou negando que o fato de ser mulher e negra não torne mais vulnerável, contudo, neste caso, não há um incômodo da burguesia e do Estado com estas características de Marielle, mas sim pelo fato de que ela denunciava toda a operação da Milícia que estava ocorrendo no Rio, isto poderia ocorrer mesmo se não fosse necessariamente uma mulher, ou uma negra, lembremos de Dorothy Stang, por exemplo. A luta de classes assume sua forma mais drástica e horripilante na crise estrutural do capital. Falamos de uma militarização que deriva da dinâmica do capital em crise, não é apenas uma questão de se estamos em um Estado Democrático ou Ditatorial. A democracia pode assumir uma face bárbara sem deixar de o ser, justamente porque ela sempre é a igualdade formal, e as contravenções dessa formalidade, (como assassinatos e etc) não são negações da democracia burguesa, antes são suas afirmações. 

Quarto – e por fim –, penso que esse “novo” estágio que entramos põe na mesa uma nova urgência em termos de pensar o Brasil, e põe também uma nova urgência em termos de um programa socialista que tenha em seu "projeto" a América Latina. Principalmente porque as tendências que vemos no Brasil, já veem a consolidação de muitas ao olhar a situação do México, e ao que parece, o Brasil e o restante da América Latina tende a seguir e aprofundar a militarização da vida social e a dominação de classe a partir da mediação da violência de forma mais cotidiana.


Prestamos nossa solidariedade à família e amigos da vítima desta barbárie!


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Wesley Sousa

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